quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Trincheira no Mitos do Teatro Brasileiro


Foto: Ronaldo de Oliveira

Teatro Subversão de palco e plateia

Foto de Ronaldo Oliveira
Foto Ronaldo Oliveira
Mariana Moreira
Acostumados a serem receptores da ação teatral, os espectadores do projeto Mitos do Teatro Brasileiro, que homenageou o diretor e dramaturgo Augusto Boal nesta terça-feira, viveram uma experiência diferente. Durante alguns instantes, foram deslocados para a posição de atores, ou espect-atores, para usar expressão cunhada pelo próprio homenageado. Antes dos depoimentos da noite, feitos por Amir Haddad, Aderbal Freire Filho e pela viúva do teatrólogo, Cecília Boal, os comandantes da parte cênica da homenagem, os atores J. Abreu e Sílvia Paes, apresentaram um impasse, baseado no Teatro do Oprimido, criado por Boal.
Diante do impasse, uma mulher que quer ensaiar um espetáculo mas é reprimida pelo marido, a plateia foi convidada a debater soluções possíveis, além de subir ao palco e encenar sua sugestão. O exercício rendeu cinco alternativas apresentadas pelo público.
Antes de relembrar o amigo, o diretor e professor de teatro Amir Haddad, pediu que as luzes do Teatro do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), fossem acesas. “Não combina com o Boal deixar a plateia mergulhada no escuro e o palco superavalorizado”, explicou.
Em seu tributo, Haddad ressaltou a grande contribuição dada pelo amigo ao teatro. “O teatro não depende do mistério. Essa desilusão faz parte da desmistificação. Todo mundo pode fazer teatro. Ele é uma atividade pública feita por particulares”, defendeu. Seu depoimento, de forte teor político, atribuiu a Boal um esforço para liberar o teatro de uma opressão ideológica imposta pela sociedade burguesa capitalista.
Após assistir à cena que evoca os tempos em que o homenageado dirigiu o show Opinião, Aderbal Freire-Filho fez questão de incluir Boal no panteão de mestres universais da cena. “O Teatro do Oprimido é, merecidamente, seu legado mais conhecido. Mas ele era um mestre e mestres não podem ser contidos em uma criação. O autor Boal eram muitos. O diretor, também”, exemplificou Freire-Filho, que citou a criação do artista-cidadão como uma das principais contribuições do diretor.
O desfecho ficou por conta da mulher do artista, Cecília Boal, que revelou sua preocupação com uma abordagem menos política e mais superficial do legado do marido. “Essa quebra dos limites entre o palco e a plateia é um convite à transgressão, mas precisa seguir regras. É importante que seja uma assembleia onde se pensa junto, e de onde se pode sair com uma possibilidade de ação concreta”, reforçou ela. “ Augusto Boal é como Raul Seixas: vai ficando cada vez melhor”, concluiu Amir Haddad.
Tributos -- O projeto, que revisita as trajetórias de grandes nomes das artes cênicas nacionais, já homenageou Dulcina de Moraes, Dercy Gonçalves, Procópio Ferreira, Nelson Rodrigues, Cacilda Becker, Chico Anysio, Maria Clara Machado, Plínio Marcos, Lélia Abramo e Paulo Autran. A temporada se encerra em 22 de novembro, com um tributo à atriz Dina Sfat.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Hoje, Trincheira saúda o mestre Boal

Mitos do Teatro Brasileiro homenageia o mestre da dramaturgia Augusto Boal

Mariana Moreira

Publicação: 18/10/2011 08:15 Atualização:

Augusto Boal deixou 22 livros escritos, traduzidos para mais de 20 idiomas (Zuleika de Souza/CB/D.A Press )
Augusto Boal deixou 22 livros escritos, traduzidos para mais de 20 idiomas

Existem lugares no mundo em que as pessoas conhecem ele e não conhecem Pelé.” A frase é do diretor e professor teatral Amir Haddad, sobre o amigo Augusto Boal, diretor, dramaturgo e ensaísta que influenciou profundamente a cultura brasileira e criou novos limites para o jogo dramático. O próprio Haddad já comprovou esse prestígio. Durante uma viagem à Alemanha, entrou em uma livraria e pediu obras sobre teatro. O vendedor, então, disse que mostraria a ele algo especial, e o levou a uma estante de livros escritos por Boal. O legado do criador do Teatro do Oprimido será foco de mais uma edição do projeto Mitos do Teatro Brasileiro, em cartaz hoje, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a partir das 20h.

O método criado por Boal, hoje presente em mais de 77 países, nos cinco continentes, casava teatro com pedagogia, tendo a transformação social como alicerce. A ideia era usar a ação dramática para formar lideranças nas centros urbanos, subúrbios e comunidades rurais. “É o teatro no sentido mais arcaico do termo.

Todos os seres humanos são atores — porque atuam — e espectadores — porque observam. Somos todos espect-atores”, escreveu o próprio Boal. Utilizado por não atores, serviria como instrumento de reflexão política. Seu conjunto de exercícios e jogos cênicos resultou em um novo método de preparação de atores, que teve impacto mundial.

Cecília Boal: luta para preservar o acervo do marido no Brasil (Institutoaugustoboal.wordpress.com)
Cecília Boal: luta para preservar o acervo do marido no Brasil

Amir Haddad, por sinal, é um dos convidados a participar da noite, com formato de teatro-documentário, e dar um depoimento sobre o diretor. “Ele era uma voz atuante, um emblema de resistência, de possibilidade de construção de um outro mundo. Não esse mundo de corrupção, discriminação racial, segregação, saneamento étnico, violência e injustiça”, defende. Em 1992, Boal candidatou-se ao cargo de vereador, pelo Rio de Janeiro, e Haddad era confundido com ele nas ruas. Ao sair da cabine de voto, ouviu de um eleitor: “Votei em você”. “Eu tinha orgulho em ser confundido com alguém que abriu caminhos importantes e corajosos para a população brasileira. Caminhos que vão além do discurso ideológico, são atitudes humanistas”, afirma.

A atuação de Boal não se resume a elevar o teatro ao posto de ferramenta social e política. Antes do Teatro do Oprimido, que ganhou formatação nos anos 1970, durante o exílio que o levou a viver entre a Argentina e a França, ele já acumulava longa experiência nos palcos. Integrou o Teatro de Arena, uma das maiores companhias brasileiras, e dirigiu espetáculos históricos. Durante a ditadura militar, realizou o famoso show Opinião, com Zé Keti, João do Vale e Nara Leão, que depois seria substituída pela estreante Maria Bethânia. Deixou 22 livros escritos, traduzidos para mais de 20 idiomas. Em 2008, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, e no ano seguinte foi nomeado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) embaixador mundial do teatro.

Como Brecht
Quando Boal faleceu, vítima de uma leucemia, em 2009, o diretor Aderbal Freire-Filho declarou: “Ele é um dos deuses do arquipélago do teatro, um dos mitos da nossa religião”. Também convidado a falar sobre o amigo na homenagem, Freire-Filho defende que Boal, ao lado de mestres como Constantin Stanislavksi e Bertolt Brech, marcou o século 20. “O que esses mestres têm de maior é propor um avanço, fazer com que o teatro vá mais longe na relação com a sociedade”, defende. Outra contribuição marcante, aponta Freire-Filho, é a criação dos seminários de dramaturgia, que revelaram textos clássicos de Oduvaldo Vianna Filho e Gianfranceso Guarnieri.

Amir Haddad: saudades do colega e criador do Teatro do Oprimido (Jose Varella/CB/D.A Press )
Amir Haddad: saudades do colega e criador do Teatro do Oprimido

O tributo contará ainda com os atores J. Abreu, codiretor do evento, a atriz Sílvia Paes e atores da Cia. Trincheira de Teatro, em cenas inéditas criadas pelo dramaturgo Sérgio Maggio. A primeira delas evoca o Teatro Fórum, uma das bases do sistema desenvolvido por Boal.

Nele, a barreira entre plateia e palco é destruída e os espectadores dialogam livremente com os atores. Uma cena em que há conflito e opressão será apresentada, e o público poderá assumir o papel de protagonista, apresentando soluções possíveis. Na segunda encenação, será revivida uma história real, dos bastidores do show Opinião. Além de atriz do Teatro do Concreto, Sílvia é multiplicadora das técnicas de Boal no Centro-Oeste. “O Teatro do Oprimido não é utopia. Ele não transforma o mundo inteiro, mas transforma sua própria vida. Eu mudei, como mulher e cidadã”, afirma.

Mitos do Teatro Brasileiro — Augusto Boal

Hoje, às 20h, no Teatro do Centro Cultural Banco do Brasil (SCES, Trecho 2, Lote 22 - 3108-7600). Participação de Aderbal Freire-Filho e Amir Haddad. Com J. Abreu e Sílvia Paes. Entrada franca, mediante retirada de senhas, distribuídas com meia hora de antecedência. Não recomendado para menores de 12 anos.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Trincheira homenageia Boal no CCBB

O lavrador de mares



O CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL E O PROJETO MITOS DO TEATRO BRASILEIRO — ANO II CELEBRAM A VIDA E A OBRA DE AUGUSTO BOAL, O CRIADOR DO TEATRO DO OPRIMIDO

Durante mais de 50 anos dedicados ao teatro, uma pergunta persistente seguia Augusto Boal em inúmeras entrevistas. “Como o senhor se define? Um dramaturgo, um diretor, um homem de esquerda, um teatrólogo? Múltiplo e sem caber em rótulos, ele, um dia, teve uma inspiração. Lembrou-se que Simón Bolivar, o revolucionário que libertou a América Espanhola do colonialismo: “Ele se dizia ser um lavrador do mar -- lavra-se uma onda, mas tem sempre outra se aproximando. É assim que me sinto. Um lavrador do mar”, concluiu Augusto Boal, um dos maiores nome do teatro do Brasil e do mundo. A memória dele será celebrada no dia 18 de outubro (terça-feira), às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com entrada franca. As senhas para o encontro devem ser retiradas meia hora antes do evento).

Engenheiro químico formado, Augusto Boal não conseguiu dizer “não” ao chamado dos palcos. Amigo do dramaturgo Nelson Rodrigues e do crítico Sábato Magaldi na juventude, ele viajou para os Estados Unidos e, lá, fez um curso de dramaturgia na Colombia University, onde aprofundaria suas convicções teatrais. Viu Marlon Brando e James Dean aprendendo Stanislavski no Actor´s Studio e, quando voltou ao Brasil, ao fim da década de 1950, foi irradiar o que sabia aos seus pares no recém-criado Teatro de Arena, espaço no qual ajudou a alinhá-lo à ideia de nacionalizar o teatro brasileiro. A partir daí, construiu uma carreira de resistência, que culminou com o show Opinião e na série de espetáculos Arena conta... Todos incomodando profundamente a ditadura militar, que o perseguiu e o exilou como um inimigo público. No exterior, aprofundou o sistema do Teatro Oprimido, que já tinha sido iniciado com o Teatro Jornal e o Teatro Invisível, ambos com forte teor político. Hoje, o método é conhecido no mundo e espalha-se por mais de 50 países nos cinco continentes.

Para celebrar a arte de Augusto Boal, os atores J. Abreu e Silvia Paes, que é multiplicadora do Teatro Oprimido no Centro-Oeste, trazem a memória viva de Boal em cenas inéditas, criadas pelo diretor-dramaturgo Sérgio Maggio, enquanto os diretores Amir Haddad e Aderbal Freire-Filho testemunham fatos relevantes vividos ao lado do homem de teatro que foi indicado ao Nobel da Paz. “Quero falar muito da generosidade de Boal. Dessa capacidade de doar conhecimentos”, adianta Aderbal Freire-Filho. “Há tanto a contar sobre essa maravilha que é Boal que vou estourar o tempo”, brinca Amir Haddad. Nessa edição, ainda participa da homenagem o coletivo brasiliense Trincheira Cia. de Teatro, que, há dois anos, pesquisa a vida e a trajetória de Honestino Guimarães, líder estudantil da UnB que desapareceu durante a ditadura militar.

Após celebrar, com êxito de público e crítica, as trajetórias de Dulcina de Moraes, Dercy Gonçalves, Procópio Ferreira, Nelson Rodrigues, Cacilda Becker, Chico Anysio, Maria Clara Machado, Plínio Marcos, Lélia Abramo e Paulo Autran, Mitos do Teatro Brasileiro segue saudando a memória de Dina Sfat (22 de novembro, com Juca de Oliveira e Thelma Reston). “A delícia de se falar sobre esses homens e mulheres, que doaram a vida ao palco, faz desse projeto uma potente declaração de amor ao teatro brasileiro”, observa Maggio.

Num formato de teatro-documentário, no qual se constrói ao vivo a biografia cênica do homenageado, a partir da junção de esquetes, depoimentos e vídeos, o projeto Mitos do Teatro Brasileiro contribui para consolidar a memória das artes cênicas. “Todos nós, público e plateia, saímos transformados a cada homenagem do projeto Mitos do Teatro Brasileiro”, conta o ator J. Abreu.

  • Acompanhe a pesquisa do projeto no blog www.mitosdoteatrobrasileiro.blogspot.com e siga-o no Twitter @mitosdoteatro

SERVIÇO:

Projeto: Mitos do Teatro Brasileiro Ano II – Augusto Boal

Direção, texto e concepção cênica: Sérgio Maggio e J. Abreu.

Com: J. Abreu, Silvia Paes e o coletivo Trincheira Cia. de Teatro

Horário: Dia 18 de outubro, terça-feira, às 20h

Duração: 100 minutos

Classificação indicativa: 12 anos

Local: Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (CCBB) – SCES, Trecho 2, Lote 22, Brasília

Telefone: (61) 3108-7600

Ingressos: Entrada franca. Senhas serão distribuídas na bilheteria com meia hora antecedência.

O CCBB disponibiliza ônibus gratuito, identificado com a marca do Centro Cultural. O transporte funciona de terça a domingo, saindo do Teatro Nacional a partir das 11h.

Trajeto e Horários

Teatro Nacional: 11h, 12h25, 13h50, 15h15, 16h40, 18h05, 19h30, 20h55, 22h

SHN – Manhattan: 11h05, 12h30, 13h55, 15h20, 16h45, 18h10, 19h35, 21h, 22h05

SHS – Hotel Nacional: 11h10, 12h35, 14h, 15h25, 16h50, 18h15, 19h40, 21h05, 22h10

SBS – Galeria dos Estados: 11h15, 12h40, 14h05, 15h30, 16h55, 18h20, 19h45, 21h10, 22h15

Biblioteca Nacional: 11h20, 12h45, 14h10, 15h35, 17h, 18h25, 19h50, 21h15, 22h20

UNB – Inst. Artes: 11h30, 12h55, 14h20, 15h45, 17h10, 18h35, 20h, 21h25, 22h30

UNB – Biblioteca: 11h35, 13h, 14h25, 15h50, 17h15, 18h40, 20h05, 21h30, 22h35

CCBB: 12h10, 13h35, 15h, 16h25, 17h50, 19h15, 20h40, 21h45, 22h45

Assessoria de Comunicação

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