sábado, 8 de janeiro de 2011

Uma placa para Honestino





Sérgio Maggio

Um dia a escritora e cronista do Correio Ana Miranda foi conhecer o Museu Nacional Honestino Guimarães, que faz parte do Complexo Cultural da República, e, ao chegar lá, constatou que não havia uma placa sequer informando que aquele equipamento cultural homenageava o ex-estudante de Geologia da UnB e líder da UNE. Ficou intrigada por que se ocultava o nome daquele, cujo corpo está desaparecido desde 10 de outubro de 1973, quando foi sequestrado pelas forças da repressão da ditadura militar. Ana Miranda, que conheceu o ativista político quando era menina, indignou-se e transformou a dor em uma bela crônica publicada, neste jornal, em agosto de 2007.

— Por que omitiram o seu nome?, perguntou a cronista.

A questão mesmo é intrigante, sobretudo, porque envolve diretamente a competência da Secretaria de Cultura, responsável por administrar os equipamentos culturais do DF. Teoricamente, esse órgão deveria trabalhar em favor da memória. No entanto, nesses anos de tempo fechado para a cultura no DF, não só o Museu Nacional teve o nome e sobrenome surrupiados. O Teatro Nacional até hoje aparece, no site oficial, sem qualquer referência ao maestro Claudio Santoro, que batiza a principal sala de teatro da capital federal.

No caso do Museu Nacional, a negligencia ao nome, institucionalizado oficialmente em sua inauguração, soa como uma segunda morte de Honestino. Até hoje, a matriarca da família Monteiro Guimarães, dona Rosa, não teve o direito de realizar a cerimônia fúnebre do filho, que figura na lista oficial de desaparecidos políticos da ditadura militar brasileira. Tiveram o desplante de entregar uma certidão de óbito com a causa da morte “desconhecida”. Mas todos sabem que raptaram, torturaram, mataram e ocultaram o corpo do estudante que sonhava com a liberdade.

Agora, quando resolveram homenageá-lo, cometeram simbolicamente os mesmos crimes. Não há placa alguma no Museu Nacional, não há referência nenhuma no site. Toda a divulgação oficial feita pela Secretaria de Cultura sobre exposições naquele espaço esconde o nome de Honestino Guimarães. É claro que isso não é um descuido. É tão ideológico quanto quem teve a ideia de homenagear a instituição com o nome de um desaparecido político.

Estamos há três anos esperando essa placa que pode vir agora com a chegada do novo governo. Desde a segunda-feira, assumiu a Secretaria de Cultura Hamilton Pereira, conhecido como o poeta Pedro Tierra, ativista político que foi perseguido e encarcerado pela ditadura. No discurso de posse, o artista e gestor lembrou de amigos que sucumbiram à luta pelo estabelecimento da democracia. Ele sabe que tem pela frente a missão de erguer uma política cultural em cima de terra arrasada. Será uma tarefa hercúlea e cercada por grandes expectativas. Mas um simples gesto pode ser um bom começo: o de restabelecer o respeitar da memória de Honestino Guimarães.