segunda-feira, 28 de março de 2011

Honestino Guimarães, vive!

WHEN I’M SIXTY-FOUR


"Will you still feed me

Will you still need me

When I'm sixty-four" (Paul McCartney)

Em 28 de março de 1968, Edson Luís de Lima Souto morreu, no Rio de Janeiro, durante as manifestações pela manutenção do restaurante do Calabouço.

Honestino Monteriro Guimarães estava em casa, comemorando seu aniversário de 21 anos com a família e amigos, quando a televisão ligada na sala deu a notícia. Saiu correndo, antes que sua mãe tivesse tempo de servir o jantar e o bolo e foi para o Congresso Nacional. No dia seguinte, na UnB, presidiu uma assembléia lotada no auditório Dois Candangos e no fim convidou todos a saírem para inaugurar a praça Edson Luís de Lima Souto, no espaço em frente ao conjunto FE-1 e FE-3.

Teria concluído seu curso de geólogo naquele ano, em sete semestres, mas foi desligado da universidade pela participação no episódio da expulsão do falso professor Román Blanco. Uma nota à imprensa foi divulgada pelo Conselho Diretor da Fundação Universidade de Brasília, presidido pelo reitor Caio Benjamin Dias, no dia 26 de setembro de 1968. A reitoria impôs aos estudantes uma vitória de Pirro: na mesma reunião do Conselho Diretor, Román Blanco foi excluído do quadro docente da UnB.

Em 13 de dezembro de 1968 o AI-5 extinguia a garantia do Habeas Corpus e centenas de jovens, como Honestino, caíram na clandestinidade, para evitar a prisão, a tortura e talvez a morte. Maria Rosa, sua mãe, nunca mais pôde mais fazer festas de aniversário para ele.

Em 10 de outubro de 1973 Honestino saiu de casa para cobrir um ponto e pediu à companheira, mais uma vez, que divulgasse o Mandado de Segurança Popular se ele não voltasse. Ele não voltou.

No dia vinte e oito de março de 2007 a Escola Honestino Monteiro Guimarães, em Itaberaí, organizou uma festa em comemoração dos sessenta anos do nascimento de seu patrono. Maria Rosa esteve presente, com o filho Norton e o neto Gabriel, autoridades da cidade, contemporâneos e amigos de Gui, parentes que ainda moram em Itaberaí, professores e alunos da escola.

A professora Rita de Cássia declamou um poema de Carlos Fernando Filgueiras. O senhor Tadeu, pai de um aluno da escola, cantou Para não dizer que não falei de flores, de Geraldo Vandré. A voz suave e afinada, a interpretação despojada, emocionou os presentes, que acompanharam o cantor no estribilho. O presidente do grêmio da escola, Mateus Ório, disse que os alunos se sentiam honrados por pertencerem a uma escola que tem compromisso com valores e ética. Maria Rosa agradeceu a homenagem ao filho, recebeu flores, a agenda e a camisa da escola e inaugurou, com Gougon e Norton, o retrato de Honestino em mosaico, feito pelo artista.

As paredes estavam decoradas com os trabalhos em que os alunos da escola, orientados pelas professoras Nilda e Luciana, contaram a história de Gui: acrósticos, poemas, palavras cruzadas, desenhos, histórias em quadrinhos e textos em prosa, resultado da pesquisa coordenada pela professora de História, Ana Lúcia. Foi servido um lanche com especialidades da região e todos sorriam, em uma alegria entremeada de saudades, na festa do aniversário de sessenta anos de Gui, cujo olhar decidido, da foto gigante na parede atrás da mesa do cerimonial, espraiava-se pelo ambiente. Ninguém parecia melancólico ou triste. De fato, tristeza não combinaria com o rapaz alegre, afetuoso, namorador, torcedor fanático de futebol, que como tantos outros em sua época, gostava de escrever cartas e poemas, de estar com a família, os parentes, os amigos, a mulher amada.

Hoje, 28 de março de 2011, ele completaria sessenta e quatro anos.

E ainda é preciso alimentar sua memória e a de todos os que desapareceram na luta contra a ditadura que oprimiu o país.


Betty Almeida