Sáb, 05 de Setembro de 2009 17:37
Conceição Freitas - Correio Braziliense
O Museu da República tem, por lei, o nome de Honestino Guimarães, mas poucos sabem disso e a instituição até agora não assumiu a homenagem a um dos mais corajosos e carismáticos líderes estudantis brasileiros.
Honestino ainda era um menino, chegando à adolescência, quando veio para Brasília, no ano da inauguração. O jovem migrante trocou a pequena e goiana Itaberaí pela inacreditável cidade moderna. Veio estudar e fez bonito. Seus boletins revelam que era um dos alunos mais brilhantes do Elefante Branco e depois do Ciem, escolas públicas de qualidade. Brasília era uma cidade de vanguarda — atraídos pelo projeto revolucionário da UnB, aqui viviam grandes nomes das artes e das ciências. Cinco anos depois de ter vindo para Brasília, o garoto goiano passou em primeiro lugar geral no vestibular da UnB de 1965. Curso escolhido: Geologia. Não demorou muito para o jovem calouro se envolver com a militância estudantil e a se integrar à Ação Popular Marxista-Leninista. Dedicou-se tão intensamente que, um ano depois, foi preso por ter pichado palavras de ordem contra o governo militar de Costa e Silva. A UnB protestou o quanto pode contra a ditadura instalada em 1964 e Honestino era um de seus mais vigorosos líderes.
Conta-se que era um encantador de pessoas. Quando subia na mesa e começava a falar, imediatamente uma onda de silêncio dominava o público. Para despistar a polícia política, aparecia e desaparecia com incrível rapidez, o que só aumentava o manto de admiração que o envolvia. Depois da invasão da UnB por um conjunto de forças policiais e militares, em agosto de 1968, Honestino foi expulso da universidade.
Quando o AI-5 armou a guilhotina, o goiano-brasiliense entrou definitivamente para a clandestinidade. Durante cinco anos, exerceu intensa atividade política sob desterro. A família e os amigos insistiram para que ele deixasse o país, mas Honestino se recusou: “Se eu sair daqui, vou me sentir mais morto do que ficando aqui. Não posso desertar, não posso deixar a minha pátria. Se todos fugirem, como fica a pátria?”, ele disse, segundo depoimento do irmão, Norton.
Honestino Guimarães foi preso em 10 de outubro de 1973 pelo Cenimar (Centro de Informações da Marinha), no Rio de Janeiro. Nunca mais dele se teve notícia, nem de seu corpo. Entrou para a lista de desaparecidos políticos, mas o irmão não gosta do termo. Acha bonitinho demais e diz que esconde quatro crimes: sequestro, tortura, assassinato e ocultação de cadáver.
Hoje, sábado (5 de setembro), às dez da noite, alunos e ex-professores do Coletivo Trincheira Cia. de Teatro farão uma “intervenção cênica e política”, nos arredores do Museu da República (obra do mais velho comunista brasileiro vivo), para que o nome de Honestino Guimarães seja integrado à instituição. O grupo é formado por alunos e ex-professores de artes cênicas da Dulcina de Moraes. O protesto faz parte de uma pesquisa que o grupo desenvolve para montar o espetáculo Honestino, guerreiro do povo brasileiro.