sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A POÉTICA, de Aristóteles IX.

Livro XIV

►No livro XIV, Aristóteles fará uma observação pertinente aos poetas, diferenciando, em teatro, o texto da encenação: “Os sentimentos de terror e pena, às vezes, decorrem do espetáculo cênico; em outras ocasiões, porém, vêm do ordenamento que se dá às ações, e este é o melhor modo, mais próprio do poeta” (p. 52).


►“Pois a fábula deve ser constituída de tal maneira que as pessoas que a ouvirem possam, mesmo sem nada ver, aterrorizar-se e sentir piedade, como acontecerá com quem escutar a estória de Édipo. Produzir esse efeito somente por meio do espetáculo é coisa pouco artística, que exige apenas o trabalho do corego” (p. 52).

►Aristóteles diferencia, ainda, o “terrível” do “monstruoso”. O monstruoso não cumpre a função trágica. O filósofo afirma, então, que o terror e a piedade serão despertadas dependendo da organização dos fatos dentro da fábula, tarefa do poeta (p. 53).


►Para suscitar tais sentimentos, as ações devem ocorrer entre amigos (pais e filhos, esposos, irmãos), porque, caso ocorra entre inimigos ou estranhos, não despertará suficiente comoção (p. 53).

►Ainda no Livro XIV, Aristóteles enumera as possíveis situações trágicas:

►I. As ações precisam ocorrer entre amigos (já explorado anteriormente);

►II. “Não se devem alterar os mitos consagrados pela tradição, como a morte de Clitemnestra por Orestes e a de Erifila por Alcmeão. O poeta deve, antes, compor sua obra de modo correto, e de acordo com a tradição” (p. 53).

►III. A ação pode ser praticada por:

►III.1. Personagens cientes do que fazem – “é o caso de Medéia, da tragédia de Eurípedes, quando mata os filhos” (p. 53);

►III.2. Por personagens que desconhecem “a vilania de seu ato, pois o laço de sangue só será revelado mais tarde; aí temos Édipo, de Sófocles” (p. 53);

►III.3. “Quem, por ignorância, vai cometer um ato terrível, mas, antes de fazê-lo, conhece a verdade” (p. 53).

►“Além dessas, não existem outras situações tragicamente possíveis, pois a ação, necessariamente, é ou não praticada, com conhecimento ou sem ele” (p. 53).

►O filósofo julga que o melhor tipo de situação trágica é aquela em que o personagem age e só depois vem a conhecer as consequências de seus atos.


►“Por isso, como já dissemos, as tragédias tiram seus argumentos de poucas famílias. Ao procurar seus temas os poetas encontraram, não por arte e sim por sorte, nos mitos tradicionais; bastou-lhes então adaptá-los” (p. 54).

A POÉTICA, de Aristóteles VIII.

(continuação)


Livro XII
Quanto ao aspecto formal da tragédia, Aristóteles define seis partes:


Prólogo
“É a parte completa da tragédia que antecede a (primeira) entrada do coro” (p. 50)

Párodo
“É o primeiro entoar do côro” (p. 50). Ou seja, a primeira entrada e intervenção do côro.

Episódio
“É a parte completa encontrada entre dois corais” (p. 50). Em outras palavras, episódios são os trechos de ação entre os atores.


Stásimo ou Estásimo
Cada intervenção do côro entre os episódios.

Kommós
“Canto lamentoso do coro e dos atores, a um só tempo” (p. 50).

Êxodo
“Parte completa depois da qual não se segue o canto do côro” (p. 50).



Livro XIII


►É imprescindível que o espectador possa estabelecer uma empatia em relação ao herói, para que a catarse, de fato, se cumpra – este é o objetivo da tragédia.


►“Não cabe apresentar homens muito bons passando de venturosos a desventurados (o que não produz nem terror nem pena, mas sim, repulsa), nem homens muito maus passando da desventura à felicidade (nada há de menos trágico; faltam-lhe as características necessárias para a inspiração de medo e piedade; e assim não se está de acordo com as emoções humanas).
Tampouco se há de mostrar o homem perverso lançar-se da ventura ao infortúnio; embora essa situação esteja de acordo com os sentimentos humanos, não produziria nem temor nem piedade; pois esta (a piedade) a experimentamos em relação ao que é infeliz sem o merecer; e aquele (o terror), sentimos por nosso semelhante desventurado; por este motivo, o resultado não parecerá funesto nem digno de compaixão” (p. 51).


►A personagem trágica não pode ser superior, inacessível, a ponto de não produzir nenhuma empatia com o espectador, nem tampouco vil, desprezível; Aristóteles recomenda uma personagem em situação intermediária.


►“É a do homem que nem se destaca pela virtude e pela justiça, nem cai no infortúnio como resultado de vileza ou perversidade, mas em consequência de algum erro; esse homem estará entre aqueles que gozam de grande prestígio e prosperidade, como Édipo, Tiestes, e outros membros de famílias eminentes” (p. 51). Esta é a definição da falha trágica.


►Adiante, o filósofo retomará a recomendação: “Deve-se ir da felicidade ao infortúnio; não por maldade e sim por algum erro da personagem, que, como já dissemos, deve antes tender para melhor que para pior” (p. 51).

República Brasileira - 120 anos

2 Golpes
1 revolução
15 militares no comando
27 civis no poder
7 presidentes sem votos
4 depostos
9 eleições indiretas
20 diretas
6 chefes de nação mortos
71 anos de governos indicados pelo povo
49 anos de governos indicados por minorias
21 anos de regime militar...
21 anos de regime militar... 21 anos de regime militar... 21 anos de regime militar... 21 anos de regime militar... 21 anos de regime militar... 21 anos de regime militar... 21 anos de regime militar... 21 anos de regime militar... 21 anos de regime militar... 21 anos de regime militar... 21 anos de regime militar... 21 anos de regime militar... 21 anos de regime militar... 21 anos de regime militar... 21 anos de regime militar... 21 anos de regime militar...

A POÉTICA, de Aristóteles VII.

►“A tragédia, entretanto, não é apenas a imitação de uma ação completa; também relata casos que inspiram horror e pena, emoções que surgem, em especial, quando as ações são inesperadas” (p. 48)

►Temos aqui esboçada a teoria da catarse, outra idéia que se tornará pilar em toda a tradição clássica ocidental.


Livro X

►O autor diferenciará as fábulas simples das complexas. Isso porque as ações que elas imitam também são simples ou complexas.

►Simples é “a ação que, de modo uno e coerente, (…) produz mudanças na sorte sem que haja peripécia ou reconhecimento”... (p. 49).

►“Digo ação complexa quando dela se segue mudança, quer por reconhecimento, quer por peripécia, quer por ambos” (p. 49).

►“A peripécia e o reconhecimento, no entanto, devem decorrer da estrutura interna da fábula, de tal forma que venha a se originar, por necessidade ou por verossimilhança, dos acontecimentos que os antecedem” (p. 49).


Livro XI

►Para que alcance o efeito sobre a platéia, retoma-se a importância da organização correta da peripécia e do reconhecimento dentro do desenrolar da tragédia.

►A peripécia “é a alteração das ações em sentido contrário (…); e essa inversão deve acontecer (…) segundo a verossimilhança ou a necesidade” (p. 49).

► O reconhecimento (…) é a passagem do desconhecimento ao conhecimento” (p. 49).

►“O mais belo dos reconhecimentos é o que se dá ao mesmo tempo que uma peripécia, como sucedeu no Édipo” (p. 49).


►Alteraremos, aqui, a ordem da exposição de Aristóteles, a fim de melhor organizarmos a defesa que este faz da catarse, efeito desejável da tragédia sobre o cidadão.

►Aristóteles afirma que “quando há peripécia, o reconhecimento produzirá temor ou piedade” (p. 50).

►“E esses sentimentos, como demonstramos, são despertados pela imitação de ações, que é a essência mesmo da tragédia” (p. 50).

►O reconhecimento se dá entre as personagens, concomitantemente ou não. Neste momento, não resta dúvida alguma sobre a identidade de uma delas ou de ambas (p. 50).

►“Essas são duas partes da fábula: a peripécia e o reconhecimento. Há uma terceira, a catástrofe”.


►“A catástrofe é uma ação de que resultam danos e sofrimentos, como ocorre com as mortes em cena, as dores lancinantes, os ferimentos e demais ocorrências semelhantes” (p. 50).

►“A estrutura da tragédia mais bela deve ser complexa, não simples, e (…) deve consistir na imitação de ações que despertam terror e pena” (p. 51).

Teatro de Epidauro. Séc III aC.

Melpomene[1] - A Musa da Tragédia.
Estátua de mármore procedente do teatro de Pompéia. Louvre.


►“A fábula é, pois, o princípio e, por assim dizer, a alma da tragédia; em segundo lugar vêm os caracteres” (p. 44).

►“A tragédia é a imitação de uma ação em sua totalidade”. Por sua vez, inteiro é “o que tem começo, meio e fim” (p. 45).


►As fábulas podem ser, ainda, simples ou complexas. A fábula simples imita uma ação simples – “aquela que produz mudança de sorte sem que haja peripécia nem reconhecimento”. A fábula complexa imita a “ação complexa, quando dela se segue mudança, quer por reconhecimento, quer com peripécia, quer com ambos” (p. 49).

►A peripécia e o reconhecimento devem se originar da “estrutura interna da fábula”, decorrendo “por necessidade ou por verossimilhança, dos acontecimentos que os antecedem” (p. 49).

Livro VIII


►No livro VII, o autor retomará a necessidade de a tragédia representar uma ação em sua totalidade – una, inteira. Discorre sobre a “unidade”. A tragédia deve ser a imitação de uma ação, de uma única ação.

►“A fábula (…) precisa imitar as (ações) que sejam unas e inteiras” (p. 47).


►Quanto à extensão, o pensador afirma que “a duração apropriada de uma tragédia é aquela que permite que nas ações – sucedidas com coerência e de acordo com a necessidade – se passe do infortúnio à felicidade ou da felicidade ao infortúnio”. Mesmo porque “…as fábulas precisam ter uma extensão que a memória possa apreender por inteiro” (p. 46).

Livro VIII


►“A unidade da fábula não se encontra (…) no fato de haver um só personagem, porque um único homem pode passar por muitos acontecimentos sem que deles resulte alguma unidade. Uma pessoa pode praticar diversas ações, as quais não formam uma ação una” (p. 46).

►Aristóteles defende que as ações sejam unas e inteiras; e que os eventos devem depender um dos outros, de modo que se algum for suprimido, desorganize o todo. Como exemplo, cita Homero (p. 47).

Livro IX


►O Livro IX da Poética traz a famosa comparação entre a História e a Poesia, no que concerne a seus conteúdos.


►Para Aristóteles, o que diferencia o poeta do historiador não é o fato de escreverem em prosa ou em verso, mas o fato de a História relatar “acontecimentos que de fato sucederam”, enquanto a Poesia “fala das coisas que poderiam suceder” (p. 47).


►“A Poesia contém mais filosofia e circunspecção do que a História; a primeira trata das coisas universais, enquanto a segunda cuida do particular” (p. 47).


►“(…) A poesia, desse modo, visa ao universal, mesmo quando dá nomes a suas personagens” (p. 47).


►Desta forma, o poeta conta coisas que poderiam acontecer dentro da verossimilhança, e a partir da necessidade.

A partir daí, a verossimilhança se constituirá conceito central na idéia de arte, do que deva ser o artístico.


►Ao longo de todo o Livro IX, o articulador demonstrará a verossimilhança na comédia e na tragédia. Verossímil pode ser o que aconteceu, ou o que não aconteceu: Aristóteles pressente a noção de “ficção”.


A POÉTICA, de Aristóteles VI.


►Os Elementos da Tragédia são explorados no Livro VI. Diz o pensador que '‘é a tragédia a representação de uma ação elevada, de alguma extensão e completa, em linguagem adornada, distribuídos os adornos por todas as partes, com atores atuando e não narrando; e que, despertando a piedade ou temor, tem por resultado a catarse dessas emoções” (p. 43).

►“Piedade”, segundo alguns comentadores, não é uma boa tradução para o termo empregado pelo escritor. Melhor tradução seria “filantropia”.

►“Considero linguagem adornada a que tem ritmo, harmonia e canto; e o distribuir-se os adornos por todas as partes significa que algumas são dotadas apenas de verso, enquanto outras servem-se também do canto" (p.43).

“A tragédia é a imitação de uma ação, realizada pela atuação dos personagens” (p. 43).

Existem, na tragédia, duas causas naturais para a ação: idéias e caráter (p.43).
►É da ação que se originará a boa ou má fortuna das personagens.

►São seis os elementos que constituem a tragédia, na Poética:


Fábula
A Fábula é a reunião das ações. É o enredo que se conta, a estória. “A fábula é imitação da ação” (p. 43).
Caracteres
O caráter são as qualidades, os traços, das personagens.
“Caráter é aquilo que revela determinada deliberação; ou, em situações dúbias, a escolha que se faz ou se evita” (p. 45).

Falas
“Fala é a expressão das idéias por meio de palavras, o que pode ser feito em verso ou em prosa” (p. 45).

Idéias
As idéias são os pensamentos das personagens, que as manifestam por meio do que dizem. Nas palavras de Aristóteles: “Por idéias, refiro-me a tudo o que os personagens dizem para manifestar seu pensamento” (p. 43).

Em outro trecho do tratado, define ele: “…nada mais são do que a capacidade de dizer, sobre determinado assunto, aquilo que lhe é inerente ou conveniente” (p. 45).

Espetáculo
É a encenação da tragédia. Aristóteles julga-a menos “artística” que o texto em si; se a catarse ocorrer unicamente devido ao espetáculo, terá sido obra do corego, e não do poeta.

“A parte cênica, embora emocionante, é a menos artística e a menos afeita à poesia. O efeito da tragédia se manifesta mesmo sem a representação e os atores; ademais, para a encenação de um espetáculo agradável, contribui mais um cenógrafo que o poeta” (p.45).

Canto
O canto é o principal dos adornos da tragédia (p. 45).

►“Toda tragédia envolve espetáculo, caracteres, fábula, falas, canto e idéias” (p. 44).
►“A tragédia não é imitação de pessoas, e sim de ações…” (p. 44).

►“…A finalidade da vida é uma ação, não uma qualidade” (p. 44).

►Desta maneira, Aristóteles distingue bem “caráter” de “ação”. Segundo ele, os homens são felizes ou infelizes de acordo com as ações que praticam, e não de acordo com seu caráter (p. 44).

►A tragédia deve servir-se de falas que revelem os caracteres das personagens, mas também da narrativa e da trama; caso contrário, não se terá uma tragédia.

“…Os principais meios pelos quais a tragédia fascina as platéias fazem parte da fábula, ou seja, as peripécias e os reconhecimentos” (p. 44).
Ruínas do Teatro de Dyonisos

A POÉTICA, de Aristóteles V.

►No Livro XXV, o filósofo associará “modo” a imitar “as coisas, tal como eram ou como são; tal como os outros dizem que são, ou que parecem; tal como deveriam ser” (p. 70).


Livro IV.

►O Livro IV apresentará a defesa da mímesis.

►Segundo Aristóteles, imitar é uma tendência humana; através dela o homem adquire os primeiros conhecimentos, e experimenta o prazer advindo do conhecimento (p.33).

►A imitação é a causa natural da Poesia.


►“Ao homem é natural imitar desde a infância – e nisso difere dos outros seres, por ser capaz da imitação e por aprender, por meio da imitação, os primeiros conhecimentos -; e todos os homens sentem prazer em imitar” (p. 40).


►Aristóteles associa ao caráter dos poetas sua inclinação para imitar “ações nobres, das mais nobres personagens” ou “imitações desprezíveis, compondo vitupérios…” (p. 40). Desta forma, o filósofo insinua que o caráter do poeta se refletiria em sua obra, um gérme do que, mais tarde, viria a ser chamada “crítica biografista”.


►Em seguida, discursa sobre a poesia, analisando a produção de Homero. Aristóteles considera a tragédia superior à comédia, e mais estimada.



►Tanto a tragédia quanto a comédia tiveram origem na improvisação; a tragédia teria descendido do ditirambo, e a comédia, dos cantos fálicos (p.34).

►No que concerne à forma, então, a tragédia caracterizava-se pelo metro jâmbico, mais coloquial, e contava com certo número de episódios (p.34-35).


Livro V


►O autor fala detalhadamente sobre a comédia pela primeira vez no Livro V. A comédia "...é imitação de pessoas inferiores; mas não em relação a todo tipo de vício, e sim quanto à parte em que o cômico é grotesco. O grotesco é um defeito, embora ingênuo e sem dor”.

►“A comicidade, com efeito, é um defeito e uma feiúra sem dor nem destruição ..." (p.35).

►Acrescenta que as transformações sofridas pela tragédia são conhecidas, mas as transformações da comédia não o são “porque no princípio ela não era estimada” (p. 42).

►Assim, sobre máscaras, prólogos, número de atores e outras particularidades, Aristóteles conclui que não se sabe a autoria (na comédia); quanto à composição de fábulas, deveria-se a Epicarmo e Fórmis (p.42).

►Em seguida, o autor volta a debruçar-se sobre os outros gêneros, estabelecendo as diferenças entre a poesia épica e a tragédia:


►“A poesia épica e a tragédia só concordam por ser, ambas, imitações em versos de homens superiores; a diferença está em que a epopéia tem metro uniforme e forma narrativa. Também na extensão existe diferença; a tragédia tanto quanto possível, procura caber dentro de uma revolução do sol, ou ultrapassá-la muito pouco; na epopéia, a duração não tem limitação, e nisso as duas diferem” (p. 42).


►A poesia épica compõe-se num metro uniforme e é uma narrativa. Além disso, diferem em extensão: a tragédia não ultrapassa um dia, ou o faz em muito pouco; já o poema épico - epopéia - não tem limite de duração (p.35).

►No livro seguinte, o articulador procurará demonstrar as partes da tragédia.





A POÉTICA, de Aristóteles IV.

(Continuação)

►Aristóteles argumentará adiante, na Poética, que o ser humano aprende sobre todas as esferas da vida por meio da mímesis, e depreende disso grande prazer.

►“Os imitadores imitam pessoas em ação” (p. 38). Essas pessoas que agem são de boa ou de má índole, de modo que “os poetas imitam homens melhores, ou piores, ou então igual a nós” (p. 38).


Livro II

►No livro II, o autor distingue a tragédia - que imita pessoas melhores do que nós - da comédia - que imita pessoas piores do que nós (p.39).

►“Como os imitadores imitam pessoas em ação, e estas são de boa ou de má índole (porque os caracteres quase sempre se limitam a esses), sucede que, necessariamente, os poetas imitam homens melhores, ou piores, ou então iguais a nós…” (p. 38).


Livro III

No livro III, o filósofo define que o teatro é caracterizado pelo drama. Tragédia e comédia são, as duas, formas de drama. "Essa, segundo alguns, a razão do nome drama, o representá-los (os homens) em ação" (p.39).

Meios
Ritmo, canto, metro, cores, traços, melodia.

Objetos
Pessoas em ação, superiores ou inferiores a nós – epopéia, tragédia, comédia.


Maneira
Narração: “quer assumindo a personalidade de outro personagem”; ou “na primeira pessoa, sem mudá-la” – como faz Homero;
Dramatização: “seja permitindo que as personagens ajam elas mesmas” (pp. 37-39).

A POÉTICA, de Aristóteles III.

Introdução


►Este famoso tratado ocupa-se da apreciação estética e sociológica de um importante fenômeno surgido há poucos séculos na Grécia, e consolidado na cidade-estado Atenas: o teatro, manifestação até então desconhecida desta e de todas as demais populações da Antiguidade – mas, em seu tempo, ainda indissociável da poesia.

►“Trataremos da natureza e das espécies da poesia, das características de cada uma, do modo como as fábulas se devem compor para a perfeição do poema”.


►O texto insere-se, ainda, em um debate caro a todos os estudiosos, historiadores e historiadores da arte, àqueles que ocupam-se da trajetória do teatro ocidental e aos educadores, a saber: o embate instituído entre Arte e Filosofia no seio da Grécia clássica.


►Como disciplina teórica, a poética é o estudo das obras literárias, particularmente as narrativas, e visa esclarecer suas características gerais, a sua literalidade, criando conceitos que possam ser generalizados para o entendimento da construção de outras obras.


►Apesar de não ter caráter normativo, ela opera implícita e explicitamente na criação artística. Surge na filosofia de Aristóteles, que a trata como um dos métodos do discurso estudando no fragmento que restou até nossos dias a tragédia, e dela destacando noções fundamentais para as considerações teóricas posteriores.



►Dividida em livros, A Poética de Aristóteles busca averiguar o que caracterizaria a “literatura”, um conceito inexistente em sua época.

►Tem início tentando definir a Arte: esta, em seu conceito, é mímesis, sobre a qual discorrerá mais detalhadamente no livro IV. “A epopéia, o poema de cunho trágico, o ditirambo (hino em louvor do deus grego Dionysos) e, na maior parte, a arte de quem toca a flauta e a cítara, todas vêm a ser, em geral, mímesis (p. 37).


►Escreve, ainda, que todas as artes diferem entre si em três pontos: “imitam por modos diferentes, e não o mesmo, ou por objetos diferentes, ou por meios diferentes..." (p.37).


Livro I

►No primeiro livro, discorre sobre as diversas artes; pintura, canto, literatura (que ele afirma não ter recebido, ainda, um nome), “arte composta apenas de palavras” (p. 37); detém-se no teatro.

►Depreendemos do texto que os pintores expressam-se “por traços e por cores”; e que as demais artes imitam pelo “ritmo, pela linguagem e pela melodia, de modo separado ou combinado” (p. 37).

►A aulética (arte de tocar flauta) e a citarística (arte de tocar a cítara), além da siríngica (que era a arte do cantor que acompanhava a cítara), valem-se da melodia e do ritmo.

►Já a dança, sob a óptica de Aristóteles, vale-se somente dos ritmos – “porque os bailarinos, com seus movimentos ritmados, imitam caracteres, emoções e ações.

►Aristóteles afirma também não existir um nome para “dar aos mimos de Sófron e de Xenarco”, bem como aos diálogos socráticos, e às composições pautadas em trímetros jâmbicos, versos elegíacos e semelhantes (p. 38).

►Os poetas, haviam recebido as denominações de “elegíacos e épicos”, não pelo tipo de imitação que empreendiam, “mas segundo o metro que usam” (p. 38).


Aristóteles estabelece uma primeira diferenciação entre a poesia e demais discursos escritos – “também recebe o nome de poeta quem escreve, em versos, tratados médicos ou de física; mas nada existe em comum entre Homero e Empédocles, senão a métrica: assim, aquele merece o nome de ‘poeta’, e este, o de ‘naturalista’ mais que de poeta” (p. 38).



A POÉTICA, de Aristóteles II.


Ingressou na Academia de Platão. “Nesta sua primeira estadia em Atenas, Aristóteles permaneceu cerca de 25 anos, primeiramente só como ouvinte, logo também como professor no estabelecimento criado por Platão”2.

Ao matematismo dominante na academia platônica, Aristóteles contrapôs “o espírito de observação e a índole classificatória, típicos da investigação naturalista, e que constituirão os traços fundamentais do seu pensamento”3.


Em 347 a.C. morreu Platão, e Aristóteles deixou Atenas. Fixou-se em Assos, na Ásia Menor, onde Hérmias, um ex-escravo e antigo discípulo da Academia, tornara-se governante. Possivelmente, a escolha de Espeusipo, sobrinho de Platão, para dirigir a Academia tenha decepcionado Aristóteles, depois de sua destacada atuação ao longo de 20 anos.

Três anos após sua transferência para Assos, Hérmias foi assassinado.


Deixou, então, a cidade, levando consigo Pítias, a sobrinha do tirano morto, que se tornou sua primeira esposa. Mais tarde, Pítias vem a falecer; Aristóteles desposa Herpilis, que lhe dará um filho, Nicômaco.

Aristóteles permanece dois anos em Mitilene, na ilha de Lesbos. A Macedônia, crescendo militarmente, inicia sua expansão. Filipe chama o filósofo em 343 a.C. para confiar-lhe a educação de seu herdeiro, Alexandre.


Em 338 a.C., os macedônios derrotam os gregos em Queronéia, impondo o fim da autonomia das cidades-Estados que caracterizava a Grécia do período helênico. A partir daí, será assimilada a organismos políticos que diluirão as fronteiras estabelecidas entre gregos e os demais povos.

Em 336 a.C., Filipe é assassinado. Alexandre sobe ao trono e constrói um imenso império, a partir de uma expedição para o Oriente.


Aristóteles retorna, neste momento, para Atenas. Lá, funda uma escola que chama de Liceu, que passou a rivalizar com a antiga Academia, agora liderada por Xenócrates.

O Liceu transformou-se num centro de estudos dedicados principalmente às ciências naturais. Alexandre enviava das terras distantes que conquistava, mostras de fauna e flora, que enriqueciam a coleção do Liceu.


Alexandre parecia devotar grande estima ao antigo mestre, mas divergiam em uma idéia fundamental: Aristóteles opunha-se à fusão da cultura grega às culturas orientais. Acreditava se tratar de naturezas distintas, e que não poderiam coexistir sob o mesmo regime político.

Depois da morte de Alexandre, em 323 a.C., Aristóteles passou a ser hostilizado pela facção antimacedônica em Atenas. Acusado de impiedade, deixou Atenas e refugiou-se em Cálcis, na Eubéia, onde morreu no ano de 322 a.C., tendo vivido apenas 63 anos.

A POÉTICA, de Aristóteles.

O Autor

Aristóteles (384-322 a.C.) nasceu em Estagira, região da Macedônia, filho do médico Nicômano, médico e amigo do Rei Amintas II, pai de Filipe. Estagira ficava na Calcídica e, apesar de estar situada distante de Atenas e em território sob dependência macedônica, era uma cidade grega, onde o grego era a língua que se falava. A vida do filósofo está marcada por esta dupla vinculação: à cultura helênica e à política macedônica.


Nicômaco era médico, profissão tradicional da família. Este Nicômaco, pai de Aristóteles, descendia de outro Nicômaco; por sua vez, filho de Macaon (bisavô) e este, finalmente, de Esculápio, conforme refere Hermipo (D. L.,V,1). Contudo, Aristóteles perdeu o pai ainda na infância. Órfão, passou a ser educado por Proxeno de Atarneo.


As instruções inicialmente recebidas por Aristóteles se referiam às ciências naturais, em vista da classe dos médicos a que pertencia seu pai. Esta referência é importante, porque determinará o gosto de Aristóteles pelas ciências naturais e o seu acurado espírito observador.


À época, destacavam-se os atomistas das cidades do norte grego, sobretudo a cidade de Abdera, onde haviam nascido os primeiros notáveis representantes da escola - Leucipo e Demócrito (c. 460-370 a.Cr.), este último, o mais conhecido e um dos homens mais eruditos de sua época.


Em 367 ou 366 a.C., chegou Aristóteles ao grande centro intelectual e artístico da Grécia, a cidade-estado Atenas.

Somava 17 anos. Conta-se que não era belo para os padrões vigentes. Além disso, apresentava uma certa dificuldade em pronunciar as palavras corretamente “que deveria criar-lhe embaraços e mesmo complexos numa sociedade que, além de valorizar a beleza física e enaltecer os atletas, admirava a eloquência e era conduzida por oradores”1.

sábado, 24 de outubro de 2009

Desaparecido, eu



"Se eu fosse jovem em 1968, provavelmente estaria desaparecido"


A frase integra o espetáculo Regurgitofagia de Michel Melamed

domingo, 18 de outubro de 2009

A queda


Já separado e com nova companheira, Maria Rosa, militante e foragida do Ceará, Honestino via-se cercado. Estava a compor então o Mandado de Segurança Popular, que não conseguiu terminar a tempo. Foi conduzido ao encontro por um companheiro, provavelmente capturado pela repressão. Foi preso em 10 de outubro de 1973 pelo Cenimar e nunca mais foi visto. Dona Rosa penou para encontrá-lo Brasil afora, participando de andança de gabinete em gabinete. Um general chegou a dar uma permissão para visitar Honestino no Natal.
Ela foi e ficou na sala de espera até receber o aviso que o seu filho não se encontrava ali. Foi momento de dor e desespero. Depois, já na militãncia espiritual, Dona Rosa encontra-se com Honestino caído numa cela, onde deu um passe para ele acordar e acaricinhá-la. Só aí, compreendeu a sua morte. Em 12 de março de 1996 chegou em suas maos a certidão de óbito de Honestino, sem esclarecer a causa da morte, o local ignorado, a data ignorada, o local do sepultamento ignorado.

-- Em 26 de agosto de 1997, a Universidade de Brasília reconhece o seu silêncio de mais de duas décadas desde a sua expulsão e outorga a Honestino (in memoriam) o título de "mérito universitário". Ao receber este título, recebo também o histórico escolar de Honestino, que mostra o compromisso cumprido de estudante com sua própria vida, impedido de terminar o seu curso de geologia, desabafa a guerreira, dona Maria Rosa Leite Monteiro.

Passaporte falso

Norton foi perseguido por ser irmão de Honestino. Quando passava em concursos públicos, não conseguia seguir carreira porque era "descoberto" como irmão de Honestino.

Em 1973, a possibilidade de prisão, tortura e morte tinha aumentado. Norton comprou um passaporte falso e foi para o Rio encontrar Honestino. Ele se negou a aceitar a rota de fuga. Disse:
"Sabe por que um relógio funciona? É porque tem uma mola no meio que o faz assim", movendo a mão no balancim dos relógios.

A bomba AI-5

Honestino soube do AI-5 na véspera da publicação, dia 12 de dezembro de 1968, procurou o irmão Norton e avisou que estava fugindo para Goiânia. Ele foi acordado, no dia seguinte, com um revólver calibre 38 na cabeça. Foi levado para interrogatório a fim de conversar onde estava Honestino. Ao ser solto, três dias depois, Norton encontrou o pai cansado. Ele pediu para que não fosse trabalhar, mas seu Monteiro afirmou que as coisas estavam atrasadas no serviço lá em Taguatinga.
- Nesta noite, ao voltar do serviço, meu pai dormiu no volante, bateu o carro e morreu. Foi como uma bomba a explodir no seio da família, lembra Norton.

UnB destroçada

A invasão teve inicio pelo CIEM. Honestino estava no anfiteatro da UnB. Os militares, vestidos de roupa de guerra, entraram rastejando e começaram a atirar. Os estudantes cercaram o anfiteatro para proteger Honestino. A polícia invadiu brutalmente e jogou Honestino no camburão. Os estudantes cercaram o veículo e viraram o carro. Honestino foi retirado e lançando num carro menor. Nessa hora, os óculos dele voaram.

Dona Rosa se desesperou Com o telefone grampeado, desabafou dizendo tudo que achava aos carrascos do filho.
- Gritei até perder a voz. Naquele tempo, não tinha medo de nada, o mínimo que poderiam fazer era me matar, pois estava sofrendo muito pelas torturas sofridas por meu filho.

Um alívio veio num bilhete, no qual Honestino pedia para consertar os óculos

Honestino saiu em outubro por habeas corpus, estava expulso da UnB e logo em seguida viria o Ai-5 e clandestinidade absoluta.

Casamento e desespero

O casamento de Honestino com Isaura foi feito às escondidas com a polícia no faro. Foi realizado numa igrejinha da Asa Norte. Era segundo semestre de 1968. A partir daí, começa o inferno em vida para Honestino. O primeiro golpe: a invasão do que parecia inviolável, a UnB. O campus foi totalmente cercado por canhões e as vias de acesso à Asa Norte interditadas. Em casa, dona Rosa se desesperou:
- Que terrível, que desespero! Como saber se Honestino estava mesmo vivo? Não acreditava na possibilidade, ouvindo aquele tiroteio. Muita gente ficou ferida, um estudante baleado na cabeça. Honestino, meu filho, foi jogado num camburão, ficando preso e incomunicável.

De novo sem liberdade

"Você foi preso outra vez por poucos dias. Parece-me que foi na época da visita do embaixador americano ao Brasil e a UnB. Houve muito barulho, quebra-quebra e prisões neste dia. Um dos manifestantes foi baleado", conta dona Rosa.

Honestino em 1968 já não mais residia com os pais, já que era vigiado e procurado, caçado como um criminoso. A família sofria muito com a angústia e o medo da terceira prisão.

Carta de dor

Houve a segunda prisão, tumultuada. Todos ficavam preocupados com Monteiro, que não aceitava de forma alguma o peso da repressão. Honestino escreve uma carta tocante ao pai, pedindo desculpas:

"Eu gostaria de ter as palavras certas para lhe falar agora, aliás eu necessito delas. Mas sei bem que dificilmente eu conseguiria dizer algo que significasse um pouco do que sinto em relação ao que o Sr. sente"

"Reconheço que tem algo de inconsequente: não no ato em si, mas como o fiz e seria desonesto se lhe dissesse mudarei meu modo de pensar. Não isso não haverá e o Sr. bem o sabe."

Vigília

Livre, começa a série de passeatas, reuniões e encontros. Honestino parecia se multiplicar. Estava em todas. E a polícia no seu calcanhar. Todo esse tumulto era conciliado com as aulas, na qual ele se mantinha com bom rendimento e o namoro. Dona Rosa e Seu Monteiro, temerosos com a segurança do filho, saíam na sua cola. Muitas vezes foram para auditórios acompanhar os discursos inflamados.
-- Eu, na verdade, não sabia bem, ou não entendia o que estava acontecendo. Só sei que me apavorava a situação e me punha a ficar atrás dele, com uma unica intenção, proteger. Lembro-me de uma vez que vieram caminhões-tanques que dispersaram a concentração com jatos d'água. Monteiro e eu ficamos totalmente molhados e Honestino desapareceu. Pusemo-nos a procurá-lo, sempre com o pavor enorme de prisão. Encontramos em casa de colega, conta Dona Rosa.

As prisões

Na sequência à morte de Edson Luiz, Honestino estava em casa. Bateram à porta, ele foi atender e não voltou mais. Mais tarde, a família foi comunicada que ele tinha sido preso, juncot com dois primos e um colega, por ter escrito palavra de ordem em pichação na rua. Na hora, Honestino fugiu e os primos foram capturados e torturados, revelando os nomes de todos que estavam na ação. A prisão durou 32 dias e daí começa a nascer a força da liderança de Honestino. Monteiro ficou desnorteado com a prisão. Não aceitava de forma alguma ter um filho preso.

Triste festa de aniversário

Honestino estava com a família e alguns colegas comemorando o aniversário em 28 de março de 1968. Nao tinha começado ainda os comes e bebes quando a TV noticiou a morte bárbara do estudante Edson Luiz, no restaurante Calabouço, no Rio. Ele abandonou tudo e saiu às pressas, furioso, revoltado, chocado. Começa aí a série de prisões

Vida Nova

Quando Brasília estava em construção, não se falava em outra coisa em Itaberaí. Dona Rosa lembra que era uma "loucura". Seu Monteiro, então, foi passar dois meses na futura nova capital e voltou com a mudança decidida. Deixaram para trás: cinema, restaurante, cartório e casa. No dia 20 de dezembro, chegaram a Brasília numa camionete Chevrolet. Foram morar na W3, "um deserto", dizia dona Rosa. Seu Monteiro foi trabalhar No Núcleo Bandeirante, enquanto Dona Rosa abriu curso preparatório para preparar alunos para a admissão no ginásio. Honestino foi estudar a 4ª sério no Elefante Branco e os meninos na Caseb.

Cinema e confusões

TInha um cinema na vida da família Monteiro. Focava na Rua do Picolé, onde moços e moças se encontravam para paquerar. Havia também um restaurante, Umuarama.
-- Todos nós trabalhávamos no bar e no restaurante. Honestino e os dois irmâos (Norton e Luiz) tinham uma banca de engraxate na porta e também vendiam balinhas no cinema, lembra dna Rosa.

No colégio, Honestino tinha 10 em conhecimento, mas zero em comportamento. Brigava muito. Uma vez ele aprontou tanto que um freira de origem alemã pegou ele no colo e deu palmadas públicas.

Seu Monteiro ficava brabo com essas histórias. Uma vez, castigou o menino com choques nas mãos, queimando-o. Quando percebeu que exagerou, o pai esmurrou o espelho e sofreu grande corte na mão.

Direito à Verdade

No dia 22 de abril de 1974, a professora Ana Rosa Kucinski Silva, do Instituto de Química da USP, saiu do trabalho dizendo aos colegas que iria almoçar no centro da cidade, em companhia do marido, o físico Wilson Silva, especialista em processamento de dados. Foi o último dia em que os dois foram vistos. Eles eram militantes da organização de esquerda Ação Libertadora Nacional (ALN) e hoje figuram na lista das 140 pessoas que desapareceram no País, após serem detidas por órgãos de repressão política, na ditadura militar. Suas famílias não puderam enterrá-los nem saber como morreram.

Essa trágica lista foi um dos motivos que levaram à organização da Conferência Internacional sobre o Direito à Verdade, que começa amanhã em São Paulo. O evento, organizado pelo Núcleo de Estudos da Violência (NEV), ligado à USP, tem aparência e estrutura acadêmicas. Seus objetivos, porém, são políticos. Acredita-se que possam sair dali, em dois dias de exposições e debates, as ideias para a montagem de uma comissão de verdade no Brasil. Em outros países que também passaram por regimes de exceção, como a Argentina e o Chile, com ditaduras militares, e a África do Sul, tiranizada pelo apartheid, comissões desse tipo ajudaram a esclarecer crimes como os desaparecimentos e a apontar os responsáveis.

O ministro da área de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, participará da abertura da conferência, amanhã pela manhã, na USP. Ele é um dos que esperam que ela aponte os rumos para criação da comissão de verdade. O idealizador do evento, o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, membro da diretoria do NEV e relator da ONU para direitos humanos, defende a constituição da comissão.

Na opinião dele, a democracia não poderá se consolidar se não for feito um acerto de contas com a tortura, as execuções, os desaparecimentos. "A conferência não apresentará nenhum projeto, mas pode oferecer ideias, propostas para um programa de reconstrução da verdade."

A abertura do encontro será feita por Priscila Hayner, diretora do programa de Paz e Justiça do International Center for Transitional Justice, em Genebra. Autora de um livro no qual analisa as experiências de comissões de verdade em trinta países, é uma das mais respeitadas autoridades internacionais na área.

Além das conferências, o evento terá depoimentos de vítimas e de familiares de vítimas de crimes da ditadura. Um dos convidados é Ivo Herzog, que era menino quando, em 1975, seu pai, o jornalista Vladimir Herzog, foi torturado e morto numa cela da polícia política, em São Paulo.

Na opinião de Ivo, que hoje dirige o Instituto Vladimir Herzog, a comissão de verdade poderia ajudar a esclarecer o que houve na ditadura. "A história verdadeira daquele período ainda não foi escrita", diz ele.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

"O Brasil é uma república federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus".
Oswald Andrade

Foi ótimo o encontro de hoje. Obrigada pelas reflexões!

Migração para o GT-1

Estou aqui no Gt-1, na Biblioteca Nacional, me batizando no blog e na pesquisa

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Comunicado à imprensa de expulsão da UnB


A queda

O pessoal acusava o Alemão de ter deletado a AP. Ele era jornalista, conhecia o Gui e tinha parentesco com Bolinha, outro jornalista, supeito de pisar na bola. Depois que Alemão foi preso, sumiu. Todo mundo correu dele.
O fato é que Gui estava fragilizado com a separação, a AP estava em crise (cresce uma corrente marxista-leninista). Ficou vulnerável demais ás vésperas de ser capturado.

Verdadeira Amiga

Honestino era cristão por força da tradição familiar. Na AP (Ação Popular), havia uma forte tendência cristã, ligada à Igreja Católica. Honestino se preocupava muito com a Madre Cristina, comentava que ela era muito dada e não cobrava nada dele, era uma verdadeira amiga.

Frase-chave

"Se eu sair, se todo mundo sair, daqui a pouquinho não terá mais ninguém",
Honestino Guimarães, que teve convite para escapar para China, Europa e Chile. mas era renitente.

Carne e osso, por Pedro Wilson

"Honestino nunca se viu como herói e nunca se comportou como tal. Era uma cara que tinha uma militãncia muito intensa, mas que descobria momentos para conversar com o grande professor de teória literária, Antonio Candido. Gostava de tomar chopes, de jogar peladas, parava para conversar sobre a vida, sobre cinema, acompanhava o lançamento dos bons filmes. "

Fim do estigma

A posição de Honestino era que a pessoa pode ser política e profissional. Ele correu para terminar o curso de Geologia de 5 anos. Ia terminar em 3,5 anos, mas faltando dois meses foi expulso da UnB. Quebrava com o estigma de que o estudante militante não queria nada como o estudo. Todos acham que se estivesse vivo hoje estaria na política, mas seria extremamente respeitado pelo conhecimento técnico. Junto com seu caderno de anotações técnicas das disciplinas de geologia, tinha um de poesia. Adorava falar de Goiás.

Madre Cristina

Madre Cristina deu refúgio a Isaura e a Juliana, tomou conta dela algumas vezes, na escola. A repressão tinha o retrato falado de Isaura, Juliana e Gui. Honestin, muitas vezes, se refugiou na proteção de Madre Cristina.

O "perigoso" Honestino

No final de 71, eu, Pedro Wilson, fui preso em São Paulo, a uma hora da manhã, quando entrava em meu apartamento. O ambiente de prisão a gente (eu e Honestino) vinha sentindo há muito tempo. Eu tinha recebido uma carta estranha dois dias antes, uma carta-armadilha. Exatamente na hora da minha prisão o telefone tocou. Era Gui. Eu o tratei com certa impaciência como se fosse um aluno. Ele entendeu e desligou imediatamente. A carta era de uma pessoa desconhecida de Goiãnia, que pedia para eu marcar um encontro com Honestino m São Paulo. Eles me seguiram nesse tempo, mas eu só ia ao encontro de Honestino por iniciativa dele, sempre em lugares diferentes e em espaço de tempo distanciado. Levaram-me para o Codi e o relatório versou sobre o meu relacionamento com Honestino e como encontrá-lo. Sabiam que eu o conhecia. Deram umficha bastante pesada de Honestino e mostraram-me o perigo que eu corria, pois ele era um "terrorista". Falei que meu relacionamento com Honestino era profissional, que estava tratando da separação com Isaura, vendo a questão da filha. Prenderam-me um mês no meu apartamento, ficando eles na guarda para pegar Honestino.
Pedro Wilson

O pensamento de Honestino

Honestino Guimarães ficou angustiado quando viu que o movimento de luta minguava diante do aparato militar. Para ele, era necessária articulação com o movimento de massa, o que ele só viu dentro do movimento estudantil. Honestino colocava a ideia de que não era o campo o fundamental no Brasil e sim a situação urbana, o operariado. Ele comparava com a revolução chinesa, que por mais rural que tenha sido, foi liderada pelos operários. Tentou fazer um consenso entre o movimento dos partidos clandestinos que atuavam na cidade com as guerrilhas, mas não teve eco.

Dificuldades da clandestinidade

Quando veio o AI-5, Honestino entrou automaticamente na clandestinidade. Em São Paulo, ele tinha dificuldades em conciliar a militância com o casamento. A vida complicou-se. Não podia aparecer em público, tinha dificuldades econômicas.
- Nesse período, Honestino sentia uma pressão política muito forte (sobretudo 70/71). Fazíamos análise crítica do processo de luta armada e o desvínculo dela do processo de massa, poucas vitórias, muito heroísmo, mas os efeitos eram cada vez mais diminuidos com a repressão violenta que atingia a liderança, como foi o caso de Marighella, avalia Pedro Wilson.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O militante Pedro Wilson

"Honestino era uma pessoa de dedicação extraordinária. Abraçou a luta com tanta garra que veio a desencadear um ódio terrível que o aparato de segurança nutria por ele. Ele se tornou um espelho do regime, o seu nome passou a ter um ressonância nacional e internacional. Tinha Honestino uma capacidade de lhe dar com a massa"

domingo, 11 de outubro de 2009

A morte de Monteiro

Dona Rosa e seu Monteiro seguiam a vida aflita naqueles dias pós- AI-5. Ele estava acabando de montar uma loja naquele dezembro de 1968, quando sofreu um acidente e morreu aos 43 anos, angustiado com tudo que estava ocorrendo com a família; Honestino quis vir ao enterro, mas foi preparada uma armadilha para pegá-lo A clandestinidade começa batizada por essa tragédia.

Duro golpe

Honestino cumpria a segunda temporada de prisão, algo que ele sempre temeu era ser detido. Foram dois meses até vim o habeas corpus. No dia da libertação, havia numeroso grupo de companheiros, que saíram em carreata por Brasília. Logo depois, veio o Ai-5, às 22h do dia 13 de dezembro de 1968. Seu Monteiro e dona Rosa ficaram em pãnico. Honestino fora avisado antecipadamente sobre a publicação do documento e fugira. O irmão Luiz também se escondera, pois estava metido com o movimento secundarista.
A casa dos Monteiros estava vigiada. Norton e duas primas, todos menores, estavam no apartamento quando a repressão invandiu à cata de Honestino. O irmão foi levado e desapareceu por três dias para o desespero da família, que se mobilizou fortemente. Quando foi devolvido, a família se envolveu em alegria e pode dormir sob efeitos de medicamentos.
- Estou pormenorizando estes fatos porque a nossa família era mutilada pela máquina da repressão. Aquela harmonia, aquela paz, aqueles encontros entre Honestino e o pai, aquelas noitadas de gamão ou xadrez em que Honestino e seus irmãos competiam como o pai , tudo acabou. Lembra-se dos passeios em que Monteiro fazia conosco em chácaras ou pescarias? Nada mais aconteceu. Toda aquela felicidade foi arrancada e substituída pela aflição, pela insegurança, pelo medo de perder Honestino, conta dona Rosa.

Mãe sorve o cálice

"Longa estrada que se iniciou com o AI-5 e, em dezembro de 1968, e o seu desaparecimento, em 10 de outubro de 1973. Época difícil de ser revivida, porque, também com ela, ergue-se a lápide de mármore que sepulta as mais atrozes dores e angústias, incertezas e procuras vãs, silêncio pesado e corações partidos. Cálice terrível de beber, é só saberá avaliar quem o sorveu. Foi altamente concentrado"

Xeque-mate

O jogo de xadrez era uma mania na família Monteiro em Itaberaí e em Brasília. Honestino adora jogar com Caramuru

Senhor Monteiro e Caramuru

O pai de Honestino era um homem que acolhia os pobres de Itaberaí em casa e na mesa farta. Destetava qualquer possibilidade de mentira e repreendia o jeito brigão de Gui. Caramuru, homem acolhido na casa pelos Monteiro porque bebia, conta que viu Monteiro falar sobre socialismocom o fiho e do desejo dele estudar na União Soviética.
Os dois, Monteiro e Caramuru, tinham afinidade com a pintura. Foram eles que decoraram o quarto dos meninos com personagens da Disney. Os quadros de Caramuru eram vendidos na rua e Gui saía junto para ajudar no comércio. Para Caramuru, foi Monteiro a grande influência na educação dos meninos, que desde cedo trabalhvam para ajudar a família.
Com a ida a Brasília e o envolvimento de Gui na militância, Monteiro ficou preocupado, parou de pintar e deixou um quadro inacabado, batizado de E o guerreiro cansou.

O irmão Luiz Carlos

"Na época, Honestino tinha 19 e eu, 17. Na euforia natural da idade, achávamos-nos em condições de realizar todos os nossos ideais políticos. O Gui pensava em partir do campo para a cidade, e eu pensava em organizar a cidade, os sindicatos e partir para a organização da luta armada. Enquanto eu queria a luta, ele queria a mudança de mentalidade.
Um dia encontrei, ele, já foragido em São Paulo. perguntei se tinha medo. Ele respondeu:
- Não. Tenho consciência de que, quando botarem as mãos em mim, vão me matar. Eu me preparo todos os dias para isto. Não quero estar despreparado, disse Honestino.

Menino Presidente


Quando era menino em Itaberaí, cidade dividida entre dois poderosos coronéis, Honestino se sentiu fortemente atraído por esse movimento político. Queria saber o que era ser prefeito, governador, presidente. Tomou logo o partido e brigava pelos seus candidatos. Adora comparecer e assistir aos comícios em praça pública
- Daí, ele passou a manifestar o desejo em ser presidente, afirmando a todos que seria presidente do Brasil, conta dona Rosa.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Artigo publciado hoje no Correio Braziliense

Memórias dos desaparecidos

Sérgio Maggio
sergiomg.df@diariosassociados.com.br

Na semana passada, o governo federal iniciou campanha nacional para remexer no que parece estar amarrado a sete nós. Batizado de Memórias Reveladas, o projeto tem site (www.memoriasreveladas.gov.br) que tenta reavivar o assunto esquecido por milhões de brasileiros, mas martelado diariamente na cabeça de algumas centenas de compatriotas. Parentes e amigos de mais de 140 estudantes e militantes que foram catalogados na triste alcunha de “desaparecidos políticos”.

No site, o cidadão pode ajudar a escrever a história, caso possua alguma informação sobre o paradeiro ou documento da ditadura. O sigilo é garantido. Aguardada há tempos por todos aqueles que acreditam nos direitos humanos, a ação, em prol da memória das vítimas do regime militar, é discreta e tímida diante do que aconteceu em países vizinhos, como Argentina e Chile, onde a sociedade civil e o governo democrático necessitaram ficar, sem pudores, diante dos horrores da ditadura.

Não será possível o Brasil amadurecer como democracia plena se não der cabo desse traumático episódio, por mais que isso doa e incomode. A campanha Memórias Reveladas é bem-vinda, sim. Mas é necessário um passo concreto para garantir a abertura e o compartilhamento de todos os documentos e informações guardados ainda nos porões. Principalmente, porque move, nas famílias, a esperança de enterrar seus queridos filhos e filhas.

Na terça-feira, 6 de outubro, os restos mortais de Bergson Gurjão Farias, guerrilheiro do Araguaia, foram enfim sepultados no cemitério Parque da Paz, em Fortaleza (CE). Sem grande destaque na mídia nacional, o enterro ocorreu 37 anos depois da morte do líder estudantil cearense. A cerimônia encerra um pesadelo na vida de amigos e parentes, que atravessaram décadas convivendo com a ausência do corpo.

Aqui, em Brasília, dona Maria Rosa Leite Monteiro sonha em saber o destino do corpo de Honestino Guimarães, estudante de geologia da UnB e líder da UNE, capturado no Rio de Janeiro em 10 outubro de 1973. A certidão de óbito que tem em mãos nem diz a causa mortis. Em casa, essa guerreira, que há anos luta por encontrar a verdade, espera incansável que alguém acesse o site do Memórias Reveladas e ajude a realizar o que lhe é de direito: enterrar o próprio filho.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O corpo de Bergson

Guerrilheiro do Araguaia é sepultado depois de 37 anos

Trinta e sete anos após ser morto por agentes a serviço do regime militar, o líder estudantil cearense e guerrilheiro do Araguaia, Bergson Gurjão Farias, foi sepultado nesta terça-feira (6), no cemitério Parque da Paz, em Fortaleza (CE). A cerimônia encerra uma série de atividades que ocorreram durante o dia em homenagem ao brasileiro. A reverência a Bergson é uma iniciativa da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR), por meio do projeto Direito à Memória e à Verdade, em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC).

“É preciso resgatar a história recente e a memória de centenas de brasileiros e brasileiras que morreram por um país livre e democrático. É fundamental o direito das famílias de sepultar seus entes queridos como pode agora fazê-lo a família de Bergson”, afirmou o ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR), Paulo Vannuchi. O ministro inaugurou memorial em homenagem a Bergson na Concha Acústica, no bairro Benfica.

Direito à Memória e à Verdade - O projeto Direito à Memória e à Verdade da SEDH/PR tem o objetivo de recuperar e divulgar o que aconteceu nesse período. São registros de um passado marcado pela violência e por violações de direitos humanos. Teve início em 29 de agosto de 2006 com a abertura da exposição fotográfica “Direito à Memória e à Verdade - A ditadura no Brasil 1964 - 1985”, no hall da taquigrafia da Câmara dos Deputados, em Brasília. Em 2007 foi lançado o livro Direito à Memória e à Verdade, que resgata para a história do país a trajetória e as circunstâncias de prisão, tortura e morte de aproximadamente 500 brasileiros que se opuseram ao regime militar.

Antecedentes - A data do desaparecimento de Bergson é entre maio e junho de 1972. Bergson permaneceu, então, na lista dos desaparecidos políticos do Brasil. Em 1996, seus restos mortais haviam sido resgatados no cemitério de Xambioá e trazidos para exames de identificação em Brasília (DF). Em junho de 2006, um novo exame de DNA resultou em conclusão positiva na comparação com material genético de familiares. Nascido em Fortaleza (CE) no dia 17 de maio de 1947, filho de Luiza Gurjão Farias e Gessiner Farias, Bergson atuou no Movimento Estudantil quando cursava Química na UFC.

Campanha -
O governo federal busca sensibilizar pessoas e organizações a doarem documentos relativos à política brasileira, durante os governos militares, ao Arquivo Nacional, que abrigará todo o acervo. Dessa forma, será possível resgatar informações sobre um importante período brasileiro e sobretudo contribuir para a localização de corpos de mais de 140 desaparecidos políticos. Os interessados em colaborar ou se informar sobre o tema poderão acessar o site Memórias Reveladas: www.memoriasreveladas.gov.br.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Visita especial...

Ontem, dia 05/09 (segunda-feira) tivemos uma, ou melhor, duas visitas mais que especiais no nosso ensaio. Gabriel e Mateus - sobrinhos do Honestino - foram lá conversar um pouquinho com a gente. A visita deles lá, além de nos contagiar bastante, deu-nos outros olhares para continuarmos com a nossa pesquisa. Sem dúvida, nos deliciamos durante o tempo que eles estiveram alí com a gente, ouvindo tudo o que eles falavam em especial de Honestino.

Meninos, muito obrigado pelo tempo que vocês nos dedicaram e sejam sempre bem vindos e voltem sempre! É uma honra tê-los ao nosso lado!

Beijo grande galera!!!!!!!!!!!!!!!!

Herinha.

domingo, 4 de outubro de 2009

Corre-corre nos estudos

Honestino, primeiro lugar no listão da UnB em Geologia. Sempre dedicado a maior parte do tempo aos estudos, sobrando pouco para a namorada Isaura. Ele tinha muita pressa. Corria para não ser alcançado pela máquina de opressão e para terminar os estudos. Foi assim que ele conseguiu fazer o curso de geologia em 3 anos, mas os ferozes não lhe deram a oportunidade de conclusão, afastando-o da UnB dois meses antes do término.
-- Este realmente foi o período mais difícil de sua vida, conta dona Rosa

O primeiro desaparecimento

Honestino tinha uns 15 ou 16 anos (mais ou menos em 1963), quando teve caxumba justamente na época da afamada Festa dos Estados, na época realizada perto da Torre de TV. Foi proibido pelo médico de ir á festa. Ele teimava em ir. O pai proibiu veementemente. O rapaz então fugiu. Dona Rosa sentiu-se em apuros:
-- O pai dele não iria perdoar. Saí atrás dele, a noite estava muito fria. Fiquei louca, preocupadíssima com sua saúde.
O movimento da festa era intenso. Dona Rosa não conseguia encontrá-lo. Nem com o serviço de alto-falante. E não querendo voltar para casa sem o filho ficou até alta madrugada a procurá-lo.
-- A aglomeração foi raleando e eu perdendo a esperança. Restava-me o recurso de voltar para casa e enfrentar a "fera"
Ao abrir a porta, dona Rosa encontrou o pai dormindo de sono solto na sala e Honestino dormindo no quarto tranquilamente, como se nada tivesse acontecido.
-- Que raiva eu tive dos dois. Que vontade de enforcá-los. E como me senti idiota, lembra.

Amor ao circo

"Quando era criança uma das coisas que mais gostava era o circo. E como demorava haver circos em nossa pequena cidade!
Mas, quando o circo chegava, em meu coração nascia a alegria,a ilusão, a felicidade. Sabia, entretanto, que tudo aquilo era efêmero, e dentre em pouco via-o partir, como sempre..., e triste eu ficava só
Hoje vejo o circo partir
Já não temos mais dramas... já não temos mais risos ou comédias. Ali parou um trapézio, além da apresentação de um palhaço que era riso, baixou-se a máscara e agora é tristeza...
Na vida, quantos circos vejo armando-se, erguendo-se em colorido risonho. Seus mastros, suas lonas, como são belos. E depois lá se vão os circos, os circos da vida. Onde domadores são domados, onde feras indónitas em mansas se transformam. Trapézios oscilam... Já não há redes, já não existem picadeiros, pois circos não existem...
Mas eles sempre aparecem em nossas vidas"
Honestino Guimarães

Honestino politizado em 1965

Eu construo a festa do mundo
armado de minhas convicções
que são as verdades do mundo
que são as verdades do homem

Estrofe emocionante de Honestino Guimarães

Num instante intenso
Fez-se escuridão completa
e os cantos da claridade
emudeceram-se todos
E a fuga da luz da beleza
abriu num vácuo imenso

Poesia de Honestino Guimarâes

Quisera fazer uma poesia
tão grande, tão imensa
que mais seria uma (elegia)
saída da minh'alma tensa
E tão grande quanto for
a vaga e firme obsessão
que norteia o meu amor

Quisera fazê-la no coração
e aí encerrá-la eternamente
chorando, rindo se quiser
mas conservando somente
sua origem de uma mulher

Quisera fazer um poesia
que despertasse riso e choro
Um poema tão louco seria
que subiria dos céus e em coro
ribombaria sobre a terra
e como uma tempestade
traria as emoções que encerra
submetidas à minha vontade
ao meu peito de homem e poeta

Afgitar-seía indomável
e poucoa pouco se aquitetaria
aninha-se-ia adorável
em minha alma imensa

Então dir-lhe-ia da poesia
cuja emoção tão intensa
nossas vidas manteria
Ela você - e eu seu autor
Ela a ponte - e eu o amor

Escritos de Honestino Guimarães

Poemas e contos

Quis fazer um dia
um poema tão profundo
tão grande, que não ia
caber todo no mundo

Pensei na imensidão
do céu que cobre o mar
e a terra, mas não,
era maior e sem par

Grandeza de um ideal
que é o norte do Homem
Pensei no bem e no mal
e na angústia da fome

E também na liberdade,
na beleza da rosa,
no utópico da igualdade
na mulher mais famosa

De tudo vinha o grito
que no limite se ecoava
tudo, tudo era finito
tudo, tudo se acabava

Voltei para dentro de mim
buscando contrito este tema
e vi o infinito assim
minha mãe - eis o poema.